Não poucos pregam reformas. Mas será que mexer em algumas engrenagens de um sistema no qual os partidos políticos e políticos profissionais continuarão sendo os protagonistas, finalmente trará uma vida pública digna, onde a virtude cívica e a eficiência administrativa prevalecerão sobre a corrupção, a demagogia e a politicagem?
Infelizmente, acredita-se que não. Outros países de maior tradição democrática já as introduziram há tempos, mas o desgosto com a classe política é (com raras exceções) universal nas democracias.
Enquanto se estabelecer após cada eleição a separação jurídica entre sociedade e governo, a frustração será inevitável.
Nas últimas décadas tem-se assistido ao despertar da consciência social dos cidadãos, através do engajamento crescente das pessoas e corporações em ONGs e programas de voluntariado, demonstrando claramente a incapacidade do Estado em atender as necessidades sociais e culturais em nível satisfatório.
No campo político, dado a descrença de que a militância partidária possa ser o caminho para atingirmos uma vida pública digna de orgulho cívico, o engajamento se limita cada vez mais a vigiar e pressionar os governos, partidos e políticos, via as entidades da sociedade civil organizada. Ou acontece espasmodicamente nas manifestações de rua difusas, que não costumam apresentar propostas claras e consistentes. Em ambos os casos, sem real poder político institucional, só restando ao povo o grito ou o lobby legítimo.
Esta na hora da sociedade ir além – ela já pode e deve assumir o poder, através de uma profunda reformulação da democracia representativa.
A sociedade precisa controlar os atos dos governantes eleitos durante seus mandatos, através de novas instituições que lhe deem efetivo poder, de direito e de fato, para mantê-los sob rédea curta, diminuindo a alienação dos políticos em relação ao pulso da sociedade.
Uma responsabilidade institucional que pode e deve ser assumida por lideranças representando todos os segmentos da sociedade – econômicos, culturais, sociais e da segurança.
Lideranças autênticas e genuínas, democraticamente legitimadas, com competências apropriadas, formadas por cidadãos que não são políticos profissionais, nem exercem cargo de tempo integral no governo, emergidos não pela via dos partidos políticos, mas sim espontaneamente na sociedade civil – incluindo as mídias sociais e outros veículos da Internet.